MP, Bahia, 2008
CARTA ABERTA AOS POLÍTICOS DA BAHIA.
Caríssimos e excelentíssimos Senhores,
tenho um metro e setenta e dois centímetros de altura, se abrir os braços em qualquer uma das calçadas no centro da cidade de Salvador, mal dá para alcançar a largura das mesmas, nossas calçadas são extremamente estreitas já pela própria natureza. Ir de A a B na avenida sete de setembro é um verdadeiro martírio, as mesmas calçadas são invadidas de camelôs já desde muito cedo, mesmo antes do horário oficial da abertura do comércio.
O pequeno vídeo que publiquei aqui neste Blog ainda ontem, mostra em parte esta tortura, já que o fiz antes do horário de verdadeira proliferação de passantes! As calçadas de pedrinhas portuguesa têm tantos buracos quanto a quantidade de camelôs, na frente das lojas acumulam-se “promotores de venda” com microfone nas mãos e com sons altíssimos e diga-se de passagem de péssima qualidade, o que vem a contribuir com um verdadeiro maremoto sonoro estrondoso para só aumentar o já falado martírio. Para um claustrofóbico impossível aventurar-se na avenida sete entre as dez da manhã e as sete da noite! Eu cada vez que passo por lá – e isso devo dizer, acontece quase que diáriamente, já que resolvi me hospedar num apartamento na rua Carlos Gomes – fico a pensar e a sofrer junto com estas pessoas que lá quase que indignadamente passam o dia a lutar desesperadamente pela sobrevivência. Eu me pergunto diariamente: pode uma pessoa chegar em casa, depois de quase doze horas de trabalho, com uma mente saudável? Penso que não!
Com um conjunto arquitetônico fantástico, literalmente a cair aos pedaços, sem dono e sem futuro, fico eu de novo a me perguntar, por que não desapropriar muitas destas casas e destes edifícios e manter alí centros comerciais populares e dar de novo as calçadas de volta aos pedrestes e a possibilidade destes camelôs a gerarem impostos?
Renovar e manter o patrimônio das pedras portuguesas como deveriam ser, com seus desenhos lindos? A calçada de pedras portuguesas de copacabana, se muito não me engano é patrimônio da humanidade. E aqui na Bahia? Nem chão decente para se andar não se tem, nem o mínimo de dignidade para se viver, trabalhar e não padecer nem de surdez precoce e sem cura e pés e tornozelos intactos de acidentes???
Vejo a cidade como uma paisagem completamente esquizofrênica, onde o luxo e a miséria vivem lado a lado, como se fossem um velho casal, a suportar-se depois de tantos anos de casamento convenientemente arranjado, não se suportam, nã se falam nem se vêem, mas vivem alí lado a lado até que o apocalípse os separe.
Um centro histórico corroido pelo desprezo dos Senhores políticos, pelo comércio do Crack, e por um folclore de plástico e polyéster: uma mentira estética chamada de bahianidade, com cara de Disneylândia pobre e feia! Assaltos a luz do dia, violência e miséria como ordem do dia! E muitos turistas a se perguntar: O QUE É QUE A BAHIA TEM?!
Como bahiano, sinto-me envergonhado cada vez que volto à Bahia, também a me perguntar o que é que a Bahia tem? As praias cada vez mais feias, invadidas pelo plástico das companhias de cerveja; uma arquitetura desenfreada acabando com as belezas naturais da cidade; miséria e violência até aonde os olhos alcancem; sujeira e lixo a deixar a cidade com um cheiro de podridão e um ar de Bangladesh. Lixo para todos e Luxo para poucos? Turismo sexual para a “tinta fraca” com dollar e euro nas mãos??? E uma população cujo mote de vida é dar com os ombros a suspirar “tem jeito não”!?
Sinto uma enorme tristeza pela enorme vergonha que tenho quando por aqui desaporto! E mais uma vez volto a citar o grande mestre Gregório de Mattos e Guerra:
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar a cabana, e vinha,
Não sabem governar a própria cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um freqüentado olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,
Para a levar à Praça, e ao Terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.
Estupendas usuras nos mercados,
Todos, os que não furtam, muito pobres,
E eis aqui a cidade da Bahia.*
*DESCREVE O QUE ERA REALMENTE NAQUELLE TEMPO A CIDADE DA BAHIA DE MAIS RNREDADA POR MENOS CONFUSA. Gregório de Mattos e Guerra.
Tem jeito não??? Ah tem sim!
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Concordâncias e discordâncias. Sem me perder de Gregório: "Triste Bahia, ó quão dessemelhante" Na real, só um exemplo: os camelôs fazem parte de "rede", como o são prostitutas, travecas, meninos e meninas de rua etc cada "rede" comandada por seu especial cafetão (assim como em Paris estão os cafetões dos mendigos com cachorros deitados ao lado).
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