quinta-feira, 4 de junho de 2009

direitos humanos.1

hoje na rua aqui em Berlin, ví um punk juntando as bagas de ciagarro de um cinzeiro na frente de um shopping center.
logo aquilo me assustou, para onde mais fundo cair depois de estar catando as bagas de cigarro que estranhos deixaram na areia de um cinzeiro gigante de porta de shopping???
daí me lembrei da minha estadia na Bahia e do encontro marcado que tinha todos os sábados por volta das 17:00hs. quando voltava da minha visita vespertina de sábado no Lar Franciscano para o apartamento alugado na Carlos Gomes. um mundo de lixo cobria a Carlos Gomes e naquela maré cheia pescavam dos sacos azuis os mendigos, as sobras dos restaurantes a quilo, sobras? o lixo dos restaurantes a quilo! para comer, alguns o faziam alí mesmo diretamente do saco! depois sobrava o brilho do plástico sob a luz amarela dos postes, um mar estilhaçado de plástico azul, negro, restos de papel higiênico a voar pela avenida, dando um ar ainda mais macabro à cena.
na Alemanha é mais difícil ver alguém catando o de comer do lixo dos outros. aqui só passa fome mesmo que já se esqueceu de sí mesmo em todos os sentidos. mas mesmo assim há a pobreza, talvez até a miséria, em forma bem diferente do que o que nós brasileiros estamos acostumados. mesmo assim triste, mesmo assim existente.
ainda assim se embrulha o meu estômago, tanto ao ver o punk catando bagas, como todas as vezes que vi os miseráveis comendo diretamente dos sacos de lixo na Bahia.
se muito não me engano o primeiro artigo dos direitos humanos é:

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."
 
alguém já parou pra pensar direito nestas duas frases?
será que estamos plenamente conscientes de que nada disso é verdade?

quantas crianças nascem diáriamente no Brasil e no mundo já sem liberdade, sem direitos?
e quantas destas crianças se transformarão em seres dotados de nenhuma razão, sem o mínimo de consciência e que jamais agirão para com quaisquer que sejam os outros com espirírito de fraternidade?


se amanhã eu ver de novo alguém pegando uma baga de cigarro no cinzeiro, meu estômago não vai mais se embrulhar, porque sei que este aqui o faz porque quer.
mas pelos sábados de tarde na Carlos Gomes, meu estômago ainda  há de embrulhar-se e muito!


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